segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

CARMINHO em Londres

CARMINHO...
Fadista desde os 12 anos de idade.
Falar aqui de fado tem a ver com literatura.
Tem a ver com poesia cantada.
Tem a essência de ser lusitano... tem a saudade.
Vi o concerto aqui em Londres há dois dias atrás.
London Jazz Festival.
Jazz... imaginem.
Mas apesar de atribuída um dos auditórios mais pequenos,
num dos mais bonitos espaços de eventos londrinos,
Southbank Centre, cerca de 300 pessoas vibraram,
Umas com surpesa, com espanto, outras na saudade...
Fado com toques contemporaneos, sem perder a tradição.
Uma voz de arrepiar, mesmo por vezes sem micro,
enchendo o recinto de potência vocal e de qualidade rara.
A admiração encheu as faces, de talvez 80% de assistência
nao portuguesa. Varios portugueses, cantarolaram,
para admiração dos presentes, que admiraram a nossa raiz.
Musicos fantásticos, com a guitarra portuguesa a fazer "estragos",
em solos maravilhosos, que elevaram o ambiente em aplausos.
Um viola brilhante e autor de varios temas, e em especial,
para mim, um viola baixo impressionante, que entregou
com a maior simplicidade momentos de fado com um toque
contemporâneo, mas sem deixar a harmonia da tradição.
Carminho, mulher simples, humilde, cheia de um humor
cativante que conquistou os risos e sorrisos da plateia.
Cantou com voz de deusa, poemas de sua autoria, Vinicios de Moraes,
Herminia Silva, Fernando Pessoa, identificando e informando
o significado do que o fado dizia, e representa para os portugueses.
O Fado ficou muito bem representado nesta noite.
Dois encores, de assistência aplaudindo de pé incessantemente.
A Poesia acompanhou as cordas e a voz.
Porque no fundo, nao há Fado sem Poesia.
Brilhante!

Carlos Lobato
Londres, 16 Novembro 2012
Jornal da Literatura


Poesia de Carlos Lobato "CORPO FERIDO"

CORPO FERIDO

Tenho o meu corpo ferido.
Este involucro de vida que me sustem erecto,
prima pela insistência que lhe imponho.
A figura e imagem expressiva... é pouco.
Faço por desabafar na pureza da fé.
A minha própria fé, mistura de religiões.
Abraçava o Mundo se pudesse...
Acabo sempre em reflexões incompletas.
...
Na realidade, só absorvemos o passado,
não consigo reflectir no futuro, com pena minha.
Não que queira tornar-me feliz na previsibilidade,
mas entregar um pouco de ânimo pela vontade.
Se pudesse escolher... desligava a alma.
Apenas no sofrimento que absorvo.
Passaria a pratica, as teorias utopicas
em oferta da felicidade, que tantos querem facil.
Descodificar as dificuldades ansiosas,
simplificar o obvio que nao se alcanca.
Sempre positivo no sorriso, sabendo eu
de antemão, que desconfiam da minha alegria.
Nao escrevo triste, mas desenvolvo a revolta interior.
Seria tão mais facil, acabar com a tristeza,
apesar de ser componente essencial,
que torna supremo, o valor da felicidade.
Tenho meu corpo ferido... pela alma.

(Carlos Lobato)